entradas dos diários de bordo daqui
Presidente Prudente, Abril 2020.

Primeiro ensaio de ECOS.
CORPO-CASA-MEMÓRIA
Corpo como casa.
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--> ECOS: projeto com a artista Yasmin Mello com a pesquisa de "corpo-casa"
--> projeto iniciado em 2020 através de plataformas de videoconferência
--> de modo devagar e espaçado, seguimos pesquisando
--> atualmente: começo a colocar a provocação de como não ignorar o espaço a nossa volta
--> (re)encontrando meus lugares dentro do novo velho espaço: casa dos meus pais
Presidente Prudente, 15 de Junho de 2020.

Lala Amada,
escolhi escrever para você porque há uns tempos estamos falando da prática artística em relação a escrita e vice-versa; então achei que faria sentido compartilhar com você.
Minha casa é muito grande, acho que no cotidiano esqueço destes metros quadrados. É engraçado que seu piso é muito frio, mas ao mesmo tempo, temos vidros e janelas. Muitas- então em todos os cômodos é possível sentir o sol esquentando a pele.
Descobri que por mais reta a escada pareça, seus degraus não tem a mesma medida. Também descobri que a medida da minha perna abrande muito que se tem por aqui.
É uma casa com poucos móveis e no geral pouca coisa (a vista)- cheguei a sala e me deu uma sensação de vazio e desconhecido. Parecia quando a gente era criança e escapava da mão da mãe/pai e, mesmo que por milésimos de segundos- parecia que eu era engolida por um vazio. Assim me senti na sala.
A cozinha ainda é convidativa, comi rosquinhas- tão saborosas se não mais do que de olhos abertos.
A cama dos meus pais ainda parece a mais aconchegante e o melhor lugar do mundo para tirar um cochilo-foi tentador, mas tem umas coisas a mais que pareciam distantes do meu próprio toque- nem me atraiu a tocá-las.
Eu já tinha percebido isso anteriormente e hoje se confirmou: meu olfato é muito ruim! Quase como se não fosse possível identificar um cheiro específico ou fosse ausente. Mas, acredito que meu tato compense. Quantas memórias apareceram no contato pele e casa.
Aqui é silencioso, e tão silencioso que quase escutei os pensamentos individuais sobrepondo o som das teclinhas dos computadores. Todo mundo tem trabalhado muito. Que bom que tem o Tiquinho para fazer um barulho vivo- embora ele não gostou de eu estar de olhos fechados e queria meu pé.
De tanto, hoje é isso.
--> exercício da residência com a Damas em Trânsito e os Bucaneiros
--> andei pela casa de olhos fechados e escrevi essa carta
--> diversão da quarentena: descobrir os cantinhos que eu caibo (confortavelmente) da casa
--> meu armário